Artigo científico 30 set 2020: Poluição do ar e outros fatores de risco que podem aumentar a gravidade do COVID-19 em Moçambique

16 October, 2020

Estimados amigos,

compartilhando artigo científico sobre COVID-19 e Saúde Ambiental em Moçambique que foi publicado no dia 30 de setembro de 2020.

O artigo infelizmente está somente em inglês mas como de praxe, nos esforçamos para oferecer aos nossos colegas do HIFA-PT pelo menos o resumo e a conclusão no nosso querido idioma.

[Poluição do ar e outros fatores de risco que podem aumentar a gravidade do COVID-19 em Moçambique]

Air pollution and other risk factors might buffer COVID-19 severity in Mozambique

J Infect Dev Ctries 2020; 14(9):994-1000. doi:10.3855/jidc.13057

Texto completo (inglês): <https://jidc.org/index.php/journal/article/view/33031087>

:: RESUMO

Moçambique está localizado na costa leste da África e foi um dos últimos países afetados pelo COVID-19 naquele continente. O primeiro caso foi relatado em 22 de março de 2020 e, desde então, os casos aumentaram gradualmente como em outros países do mundo. Características ambientais e populacionais têm sido analisadas em todo o mundo para entender sua possível associação com o COVID-19. Este artigo busca destacar a evolução e a possível contribuição de fatores de risco para a gravidade do COVID-19 de acordo com os dados disponíveis em Moçambique. Esses dados destacam que a gravidade do COVID-19 pode ser ampliada principalmente pela hipertensão arterial, obesidade, câncer, asma, HIV/SIDA e doenças de desnutrição, e tamponada por idade (população jovem). Devido à evolução epidêmica do COVID-19, particularmente em Cabo Delgado, há a necessidade de aumentar a capacidade de diagnóstico laboratorial e monitorar o cumprimento das medidas preventivas. Atenção especial deve ser dada a Cabo Delgado, incluindo o seu isolamento de outras províncias, para superar a transmissão local e a disseminação do SARS-CoV-2.

:: CONCLUSÕES

Em conclusão, é sabido que a gravidade do COVID-19 sobe acentuadamente para os idosos e aqueles com condições de saúde subjacentes, incluindo doença cardiopulmonar, câncer, obesidade e diabetes; e a poluição do ar é considerada um cofator adicional do alto nível de letalidade. No entanto, há poucos dados disponíveis em todo o mundo para analisar esta associação, e ainda menos em Moçambique. Este país foi um dos últimos a relatar casos de COVID-19, e infelizmente, os casos COVID-19 foram aumentando gradualmente desde o paciente zero relatado em 22 Março de 2020, com o maior número de casos relatados até 24 de abril de 2020. Entre fatores de risco de gravidade do COVID-19, os dados disponíveis sugerem que as doenças crônicas não trasmissíveis (principalmente hipertensão, obesidade, câncer e asma) podem ter um papel importante na gravidade do COVID-19. Paralelamente a exposição à poluição do ar pode ser um fator importante para a gravidade do COVID-19, principalmente em algumas cidades devido a indústrias e outras atividades urbanas. Além disso, é claro que a co-infecção pelo HIV/SIDA e tuberculose também podem provavelmente contribuir para a gravidade COVID-19, haja vista Moçambique tem um número significativo de pessoas vivendo com essas doenças. No entanto, a população jovem pode tampão a esta gravidade. Taxas de letalidade por casos para indivíduos com certas condições médicas crônicas são até cinco vezes maior do que a taxa geral de fatalidade caso para pacientes com COVID-19, embora haja dados escassos sobre pacientes COVID-19 imunocomprometidos.

A desnutrição pode fazer alguns pacientes, particularmente crianças, mais suscetíveis ao COVID-19. A desnutrição crônica é uma preocupação em Moçambique, com uma prevalência de 43% em crianças menores de 5 anos, contribuindo para os óbitos infantis e a má saúde infantil. Em algumas províncias, como Nampula, Cabo Delgado (epicentro atual do COVID-19), Niassa, e Zambézia províncias do norte, a prevalência é dupla.

A desnutrição crônica tem um efeito prejudicial sobre saúde, exacerbando doenças como pneumonia, que ocorre até 36 vezes maior para crianças desnutridas. A população adulta também enfrenta desnutrição em Moçambique. Por exemplo, 51% das mulheres de idade reprodutiva tem anemia. No entanto, ainda não está claro como os fatores de risco do COVID-19 interagirão e qual será o peso. Dados adicionais são necessários para entender melhor a relação entre desnutrição e o COVID-19 em Moçambique.

Em Moçambique, 65 casos, incluindo 57 localmente transmitidos e oito casos importados principalmente do Reino Unido, Portugal e África do Sul têm sido relatados. A epidemia do COVID-19 está evoluindo principalmente em Cabo Delgado, província de Maputo e cidade de Maputo. Portanto, existe a necessidade de aumentar a capacidade de diagnóstico dos laboratórios, e monitorar a conformidade de medidas preventivas. Atenção especial deve ser dada à cidade de Cabo Delgado, incluindo seu isolamento de outras províncias para superar a transmissão local e propagação de SARS-CoV-2.

Saudações,

Eliane Santos